Nesta primeira
postagem do blog, Condor Research, queria agradecer a todos vocês, ex
assinantes e seguidores. Seus e-mails e comentários no meu Twitter, Linkedin, e até ligações, contando-me das suas dúvidas, medos e experiências, que têm me
motivado no dia a dia. É muito inspirador ver como além dos frios números, cálculos
e do mundinho dos investimentos, existem pessoas as quais o meu trabalho pode
ajudar na consecução das suas metas e sonhos.
Tem sido muitos e-mails
e nem sempre tenho conseguido responder a todos. Eu já farei, pessoalmente,
como eu sempre tenho tentado fazer. E mais surpresas deverão estar a caminho
para que estejamos em contato. Aceito sugestões no meu email cherreracondor@gmail.com.
Eu sigo acompanhando
as empresas dos meus antigos portfólios e, felizmente, já existe um canal para
poder publicar a minha opinião sem censuras, pressões nem riscos de retaliação.
Como sempre, meu foco é, e continuará sendo, trazer a vocês uma opinião técnica,
sem conflitos de interesse, que lhes ajude na tomada de decisões.
Adicionalmente,
continuo me reunindo e falando com potenciais candidatas de investimentos. O trabalho de quem
ama cobrir empresas não pára. Férias? Bem longe disso! O que tem havido são viagens
para visitar fábricas e falar com o management das empresas.
Nesse contexto, duas
semanas atrás tive a oportunidade de me reunir em Porto Alegre com o management
da SLC Agrícola (SLCE3). Semana
passada foi o sexto Farm Day, o qual acompanhei via Livestream.
A adição do papel foi
feita em relatório de ações em situação especial publicado no dia 27/10/2016 depois de quase 10 meses de estudo e de esperar pacientemente por um ponto de
entrada.
Conforme sempre tenho
explicado, dado que tudo tem um valor e, como investidor queremos um ótimo
retorno que compense os riscos (sim, pode dar tudo errado), o preço importa, e muito. Posto isto, precisávamos de uma margem de segurança que nos deixasse confortáveis. A recomendação de compra foi feita em R$14,85 à época, que tirando
os dividendos equivaleria hoje a R$13,30.
Um dos fatores que
pesaram na recomendação foi o da procura por seguros diante da volatilidade
global (a eleição do Trump podia acontecer, guerras, etc), o qual comentei no
relatório sobre a vinda de Jim Rickards.
Uma parte básica da
compra de seguros é comprá-los quando ninguém os quer. Ou seja, levá-los de
graça ou até ser pago por eles. Vindo de um país sísmico, não adianta você ir e
procurar por um seguro que te proteja diante de terremotos justo depois que aconteceu
um (por exemplo, logo depois de fevereiro de 2010). Por mais que se saiba que
um evento de magnitude semelhante acontecerá dentro de 20-30 anos, a força da
procura, elevará o preço aos absurdos. Se não fez no momento certo, é melhor
esperar até o mercado ficar mais calmo e que o cisne negro tenha passado.
Nessa época, SLCE3
estava negociando próximo do valor de liquidação (montei diferentes cenários) e
muito descontada em relação às comparáveis e ao NAV (valor líquido dos ativos).
De fato, estava negociando a 0,4x NAV e em termos de EV/hectare ajustado, ela
negociava à quase a metade das comparáveis brasileiras (AGRO3 e TESA3) e em
linha com as argentinas (Adecoagro e Cresud).
Isso se deveu a uma
safra 2015/16 afetada pela presença da pior edição do fenômenos de El Niño dos
últimos 50 anos. O volume de chuva esteve 30% abaixo da média histórica. o que
repercutiu em queda de 20% na produtividade.
Mesmo fazendo esforços
operacionais de redução de custos/despesas, de investimentos (capex) e revisão
do plano agrícola, a empresa conseguiu apenas fechar praticamente no zero a
zero em 2016 (lucro pífio de R$15,6 milhões versus R$121 milhões de 2015). A alavancagem
financeira terminou em preocupantes 3,4x dívida líquida/EBITDA.
Ou seja, só tínhamos o
track record que mostrava que a empresa estava na parte superior à média
brasileira em produtividade, um portfólio de terras valioso (mas que eles não
monetizavam nunca) e depois de um tempo parado no limbo, o papel só reagia
diante do noticiário relacionado á liberação de compra de terras por parte dos
gringos. O que para mim não fazia sentido, pois: 1) independentemente das leis,
gringos já estão no Brasil (diferentes empresas têm dado um jeito criativo de
controlar terras) e 2) o setor agrícola brasileiro conta com players
competitivos em nível global, razão pela qual a expertise forânea não é
necessária.
Sei que este ponto
pode ser controverso, mas um fato é que entre idas e vindas ainda não vemos
novidades sobre tal projeto nem uma estratégia clara por parte dos candidatos
presidenciais que lideram as pesquisas.
O potencial de
destravamento de valor estava em: 1) melhora operacional que poderia ver-se turbinada por uma 2) melhora climática (alguma dia teria que chover de novo), 3)
desalavancagem, 4) uma melhora de governança (através de um esclarecimento
sobre a política de dividendos, de venda de terras, etc.).
E o que aconteceu?
Todos os gatilhos andaram a partir de então.
1)
A
companhia manteve produtividade acima da média.
2)
Clima está
favorecendo as safras.
3)
Reformulou
bem sucedidamente o portfólio de terras, ficando com áreas mais maduras.
4)
Começou a
marcar a mercado (finalmente!) o portfólio, e está se comprometendo com uma
venda de terras mais recorrente.
5)
Tem
fortalecido a geração de caixa (através de menos volatilidade da safra, por
venda de terra, desalavancagem), o que tem assegurado um fluxo forte de
dividendos e de recompras.
6)
A
governança tem melhorado, já que variáveis chave da estratégia estão mais
claras e o management tem se esforçado em esclarecer o modelo de negócios
perante o mercado.
Daqui para frente, o
que podemos destacar das reuniões em que eu estive com eles e do Farm Day?
1)
A companhia
continua confiante em conseguir melhorar a produtividade, de 62 sacas/hectare
para 70 sacas/hectare no longo prazo (nas próximas 5 safras).
2)
Também
pretende continuar a mudança para um modelo mais asset light. Na safra de 2018/19 já o mix entre terra própria e
arrendada ficará em 50:50. Mas a percentagem arrendada poderá chegar em 60% no
longo prazo.
3)
As
perspectivas para a safra, dólar e preço das commodities parecem positivas
.
Desse jeito, estimo
que o EBITDA desse ano poderá fechar em R$700 milhões e na casa de R$650 milhões
em 2019. Assim, SLCE3 negocia hoje a múltiplos
de 9,8x EV/EBITDA e 18,8x Preço/Lucro sob minhas projeções para 2019. O
anterior significa um prêmio de ~25-30% em relação às suas médias históricas.
Isso é caro ou barato?
Por um lado, o papel é defensivo já que oferece exposição a receitas
dolarizadas em um momento de incerteza com uma boa entrega operacional. Isso é
ótimo. Por outro lado, a estratégia de comprar seguros no meio da guerra pode levar à hipervalorização deles, abrindo uma boa janela de saída para quem foi precavido. No
final das contas, a ideia é vender quando a empresa está performando e as
expectativas são boas, não o contrário.
Neste caso, sabemos que
a Bolsa brasileira está negociando na casa de 10x preço/lucro 2019E, em linha
com o múltiplo histórico. O problema é que pelas incertezas a frente, bem
provavelmente a Bolsa conseguirá chegar a negociar no nível de estresse de ~8x.
Assim, faz sentido comprar um papel, mesmo que de uma empresa ótima ao dobro do
múltiplo atual e a 25% de prêmio em relação às próprias médias?
Para mim, a resposta é
não. É o momento de realizar o ótimo
ganho de ~351% (incluindo os dividendos) no período de quase dois anos
em SLCE3 e procurar papéis que ofereçam um mix risco x retorno mais atraente.
Seguem abaixo vídeos com resumos do Farm day SLC 2018.
Você tem sugestões de
papéis ou assuntos para análise? Quer me contar mais sobre a sua experiência
como investidor? É só escrever para email cherreracondor@gmail.com. Se não se inscreveu no blog, faça-o aqui: hcondor.blogspot.com.
Um grande abraço!
Carlos Herrera, CNPI
Em cumprimento com a
ICVM 598, declaro que as recomendações anteriores refletem única e
exclusivamente minhas próprias opiniões, as quais foram elaboradas de maneira
independente e autônoma.
Top!!!
ResponderExcluirBoa análise!
ResponderExcluirTem conhecimento da empresa Brasil Agro (AGRO3)?
Ela é mais focada em desenvolvimento e venda de propriedades agrícolas, também é negociada a baixo do valor do NAV.
Poderia fazer uma análise pra nós.
Obrigado
Deveria analisar na nova série Operação Condor. Acabou de ser lançada ontem. Viu?
ExcluirGrande Herrera,sempre focado na responsabilidade e técnica.
ResponderExcluirObrigado, Professor. Aliás, você viu que já fiz lançamento do Operação Condor, minha carteira de situações especiais?
ExcluirMuito obrigado por voltar a compartilhar suas precisas análises. Sou fã desde o vacas, grande abraço!
ResponderExcluirExcelente análise, como sempre. Sou muito grato por nos deixar ter acesso ao seu conhecimento, sou seu fã ! Boa sorte, abraço !
ResponderExcluirExcelente, muito bom que tenha voltado a compartilhar as análises
ResponderExcluirP/L da SLC é 9,09 e não 18
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